História


O Aedes aegypti é um mosquito originário da África. Apesar de ter sido descrito no Egito, como o próprio nome sugere, é provável que seja da Etiópia. Ele foi descrito cientificamente pela primeira vez em 1762, como Culex aegypti. Foi rebatizado várias vezes e, como Stegomyia fasciata, tornou-se o temido Aedes.
Este vetor se dispersou pelo mundo acompanhando o homem durante suas intensas migrações. Era um mosquito de hábitos silvestres, porém a ação antrópica destruiu seus habitats naturais, e o inseto acabou de adaptando, ao longo do tempo, às novas condições impostas pelos seres humanos, tornando-se atualmente a espécie de mosquito mais dependente do homem.

No Brasil, o mosquito desembarcou no porto do Rio de Janeiro em 1849; vinha no navio Navarre, juntamente com os escravos. Dez dias depois, a capital do império recebia a notícia de que uma epidemia assolava a cidade baiana. A febre amarela havia chegado ao Rio, onde atingiu quase 40% dos 266.000 habitantes e matou mais de 4.000 pessoas. A Academia Imperial de Medicina jamais imaginaria que a peste tinha um único responsável: o Stegomyia fasciata, que 100 anos depois ganharia o mundo sob o nome de Aedes aegypti. Oficialmente, só em 1900 se confirmou que o transmissor da febre amarela era um inseto. O mesmo Aedes que atormenta o país nos dias de hoje. Entre 1897 e 1906, 4.000 ingleses, portugueses e franceses residentes no Rio morreram por causa da epidemia. A cidade passou a ser conhecida no resto do mundo como "túmulo dos estrangeiros" ou "porto sujo". Em 1958, o mosquito foi considerado extinto, graças ao combate às epidemias que se seguiram implantadas pelo sanitarista Oswaldo Cruz; conquista que o descaso posterior pôs a perder. Agora, faz sua volta triunfal. 


Sua trajetória é descrita a seguir com referência aos marcos históricos mais relevantes:

  • 1685 - Primeira epidemia de febre amarela no Brasil, em Recife.

  • 1686 - Presença de Aedes aegypti na Bahia, causando epidemia de febre amarela (25.000 doentes e 900 óbitos)

  • 1691 - Primeira campanha sanitária posta em prática, oficialmente no Brasil, Recife (PE).

  • 1849 - A febre amarela reaparece em Salvador, causando 2.800 mortes. Neste mesmo ano, o Aedes aegypti, instala-se no Rio de Janeiro, provocando a primeira epidemia da doença naquele Estado, que acomete mais de 9.600 pessoas e com o registro de 4.160 óbitos.

  • 1850 a 1899 - O Aedes aegypti propaga-se pelo país, seguindo os caminhos da navegação marítima, o que leva à ocorrência de epidemias da doença em quase todas as províncias do Império, desde o Amazonas até o Rio Grande do Sul.

  • 1881 - Comprovação pelo médico cubano Carlos Finlay, que o Stegomyia fasciata ou Aedes aegypti é o transmissor da febre amarela.

  • 1898 - Adolpho Lutz observa casos de febre amarela silvestre no interior do Estado de São Paulo na ausência de larvas ou adultos de Stegomyia (fato na ocasião não convenientemente considerado).

  • 1899 - Emílio Ribas informa sobre epidemia no interior de São Paulo, em plena mata virgem, quando da abertura do “ Núcleo Colonial Campos Sales”, sem a presença do Stegomyia (também não foi dada importância a esse acontecimento).

  • 1901 - Com base na teoria de Finlay, Emílio Ribas inicia, na cidade de Sorocaba SP, a primeira campanha contra a febre amarela, adotando medidas específicas contra o Aedes aegypti.

  • 1903 - Oswaldo Cruz é nomeado Diretor-Geral de Saúde Pública e inicia a luta contra a doença, que considerava uma “vergonha nacional”, criando o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela.

  • 1909 - Eliminada a febre amarela da capital federal (Rio de Janeiro).

  • 1919 - Surtos de febre amarela em seis Estados do Nordeste. Instala-se o serviço anti-amarílico no Recife.

  • 1920 - Diagnosticado o primeiro caso de febre amarela silvestre no Brasil, no Sítio Mulungu, Município de Bom Conselho do Papa-Caça em Pernambuco. A febre amarela deixa de ser considerada “doença de cidade”.

  • 1928 a 1929 - Nova epidemia de febre amarela, no Rio de Janeiro, com a confirmação de 738 casos, leva o Professor Clementino Fraga a organizar nova campanha contra a febre amarela, cuja base era o combate ao mosquito na sua fase aquática.

  • 1931 - O governo brasileiro assina convênio com a Fundação Rockefeller. O Serviço de Febre Amarela é estendido a todo o território brasileiro. O convênio é renovado sucessivamente até 1939. Técnica adotada: combate às larvas do Aedes aegypti mediante a utilização de petróleo.

  • 1932 - Primeira epidemia de febre amarela silvestre conhecida foi no Vale do Canaã, no Espírito Santo.

  • 1938 - É demonstrado que os mosquitos silvestres Haemagogus capricorniiHaemagogus leucocelaenus podem ser transmissores naturais da Febre Amarela. Mais tarde, comprova-se que Haemagogus spegazzinii, Aedes scapularis, o Aedes fluviatilis e Sabethes cloropterus são também transmissores silvestres.

  • 1940 - É proposta a erradicação do Aedes aegypti, como resultado do sucesso alcançado pelo Brasil na erradicação do Anopheles gambiae, transmissor da malária que, vindo da África, havia infestado grande parte do Nordeste do país.

  • 1947 - Adotado o emprego de dicloro-difenil-tricloroetano (DDT) no combate ao Aedes aegypti.

  • 1955 - Eliminado o último foco de Aedes aegypti no Brasil.

  • 1958 - A XV Conferência Sanitária Panamericana, realizada em Porto Rico, declara erradicado do território brasileiro o Aedes aegypti.

  • 1967 - Reintrodução do Aedes aegypti na cidade de Belém, capital do Pará e em outros 23 Municípios do Estado.

  • 1969 - Detectada a presença de Aedes aegypti em São Luís e São José do Ribamar, no Maranhão.

  • 1973 - Eliminado o último foco de Aedes aegypti em Belém do Pará. O vetor é mais uma vez considerado erradicado do território brasileiro.

  • 1976 - Nova reintrodução do vetor no Brasil, na cidade de Salvador, capital da Bahia.

  • 1978 a 1984 - Registrada a presença do vetor em quase todos os Estados brasileiros, com exceção da região amazônica e extremo-sul do país.

  • 1986 - Em julho, é encontrado, pela primeira vez no Brasil, o Aedes albopictus, em terreno da Universidade Rural do Estado do Rio de Janeiro (Município de Itaguaí).

  • 1994 - Dos 27 Estados brasileiros, 18 estão infestados pelo Aedes aegypti e, seis pelo Aedes albopictus.

  • 1995 - Em 25 dos 27 Estados, foi detectado o Aedes aegypti e, somente nos Estados do Amazonas e Amapá, não se encontrou o vetor.

  • 1998 - Foi detectada a presença do Aedes aegypti em todos Estados do Brasil, com 2.942 Municípios infestados, com transmissão em 22 Estados, Aedes albopictus presente em 12 Estados.

  • 1999 - Dos 5.507 Municípios brasileiros existentes, 3.535 estavam infestados. Destes, 1.946 Municípios em 23 Estados e o Distrito Federal apresentaram transmissão do dengue.


Referências:  Carneiro, Marcelo. Um mosquito bicentenário. Veja online, Rio de Janeiro: Abril, 2002 (1741): 6/6/2002 e FUNASA - fevereiro/2001 - pag. 25.

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